domingo, 23 de março de 2014

Dia da Mulher

Como é difícil fazer um texto sobre o dia de hoje. Li alguns que estavam aqui no face, e nossa, sensacionais. Tentei escrever um que começou com um 'o que é ser mulher no século XXI' e desenvolveu-se em querer comer doce e não fazer nada o dia inteiro, ficar nervosa antes de um encontro e amar gestos carinhosos. Ou seja, meu texto estava repleto de toques pessoais que não englobavam à todas, somente garotas de uns 16 anos sonhadoras que tem uma obsessão por açúcar. Tão complicado escrever sobre o próprio sexo sem levar em conta experiências pessoais, tão complicado ser mulher e escrever sobre.

Deve ser tão trabalhoso porque mulher é esférica. Não é de fácil entendimento e plana. Em uma mulher possui várias complexidades e antônimos juntos. Nenhuma mulher é apenas santa ou apenas "vadia". Mulher é santa e vadia. Tem o seu lado carinhoso, quieto mas também tem seus momentos de descontração, de diversão, de excitação, quebrando os chatos tabus que persistem. Mulher é sonhadora como é realista. Mulher tem o poder de gerar uma criança do mesmo jeito que um dia foi gerada, tem o poder de assegurar por nove meses a perfeição biológica que possui a natureza. Mulher quer se arrumar para se sentir bonita e também quer estar de bem com o seu natural. Mulher na tpm chora, sente raiva ou nem sabe que está sofrendo disso, pois não sente nada. Há tantas diferenças e tantas semelhanças entre mulheres. Há tantos lados e caras numa mesma mulher. Tão complexa, tão surreal e ao mesmo tempo real.

Nenhum ser de nenhum sexo é perfeito para ser dotado de equilíbrio. Mas a mulher consegue transparecer perfeição com esse jeito complicado e ao mesmo tempo tão exato de lutar pelas coisas, apreciá-las e de deixar qualquer um doido. É o desequilíbrio mais equilibrado de todos. Feliz dia das mulheres!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Felicidade carnavalesca

Nunca fui muito de pular carnaval. Tenho mentalidade de 80 nessa época do ano e não possuo a arte de saber sambar. Mas posso dizer que, nas vezes que fui à rua durante tal período, percebi o constante uso de um argumento simples, que consiste num "é carnaval".

Pode fazer tumulto nos transportes públicos, pode andar no meio da rua embriagado, sem se importar com os carros que insistem em passar, afinal, é carnaval. Pessoas desrespeitam umas às outras, zoando o excesso de peso, ressaltando o quão desprovido dos "padrões" o outro está ou simplesmente tratando como objetos sexuais.

Porém, eu gosto muito mesmo dessa energia positiva do período. De acordo com a mentalidade generalizada, pra quê brigar, pra quê se irritar se é carnaval? É uma época em que você pode transpirar sua felicidade de todas as maneiras possíveis sem ser julgado. Seria ótimo se todos os dias do ano fossem assim, você seguir sua rotina sem ser atingido por uma chatice e seriedade que engloba todos. Imagina se falassem "não se preocupe tanto, não fique com essa cara feia, afinal, hoje é mais um dia de vida". Eis uma meta que deveria ser seguida: levar cada segundo do ano com um espírito carnavalesco, usando-se o bom senso e o respeito.


Gabriela Martelo

Sobre respeito

A vida cotidiana é infestada de tarefas desagradáveis. Não deu outra: sexta recebi meu bloco de phs (exercícios semanais que a escola na qual estudo passa). Como estava numa aula que simplesmente queria ignorar, dei uma olhada na proposta de redação. Eu tinha que elaborar um artigo de opinião sobre a importância do respeito nas relações amorosas. Seria um tema fácil de desenrolar, porém mandaram levar em consideração não só o respeito ao parceiro, e sim à própria personalidade. E, claro, isso me fez travar. Porque eu não queria escrever sobre como o respeito é fundamental. Eu queria é falar sobre como é difícil respeitar à si próprio. 

Sempre vai ter um narcisista, moralista, qualquer coisa que termine com "ista", para falar que se dá o valor acima de tudo, que sempre se colocará em primeiro lugar. Mas ninguém compra flores para dar à si mesmo. Poucas são as pessoas que curtem uma saída acompanhada apenas pela própria sombra. Você, certamente, nunca está totalmente satisfeito consigo mesmo, seja relacionado ao interior quanto ao exterior. Sempre tem um detalhe a corrigir, um hábito que precisa mudar. Gargalhar com o silêncio de um cômodo não é lá essas coisas. E sentir saudades de se ver e de ouvir a própria voz, alguém declara tal ato? Se eu te perguntar "quem é você?", vossa senhoria teria a resposta na ponta da língua? 


Estamos tão habituados com o nosso eu que é difícil defini-lo, não nos damos o trabalho de explorá-lo. Muito mais fácil falar mal e bem dos outros, alvos que estão sempre no julgamento mental. Difícil proporcionar felicidade a quem nem se sabe definir. Fácil comprar bombons e fazer o dia do parceiro. Difícil ignorar (de verdade, não apenas dizer que não liga) olhares alheios e se vestir da maneira que tiver vontade. Fácil admirar a nova tendência na capa da revista de moda. Se é muitas vezes difícil ter respeito ao próximo, quem dirá a si próprio, maldito que vive para viver uma vida coletiva, esquecendo-se de viver o que há em seu ser.


Mesmo tendo dito que é difícil o auto respeito, acredito que um indivíduo, após muito sofrer com relações fracassadas, comece a ter um sentimento mútuo consigo. Não aprendemos a falar e escrever de imediato. Então porque com os sentimentos tem que ser assim? O respeito próprio não nasce com a gente. Ele vem de experiências exteriores. De fora para dentro. É necessário sofrer para adquiri-lo. Como dizia um poeta: quem não quiser sofrer, que se isole. E acrescento: e que fique sem uma gota do que seja feito de respeito.


Gabriela Martelo

Excesso

Um trânsito do caos na linha amarela. Minha mãe, um tanto impaciente no banco do motorista, comenta "como tem gente nesse mundo!", se referindo a absurda quantidade de carros, obviamente. Eu, entediada com a mesmice da paisagem que não andava, comecei a refletir sobre a fala dela, mesmo dita da boca pra fora. 

Tanta gente nesse mundo, tanta gente nascendo, morrendo, sobrevivendo, lutando, vagabundiando, trabalhando. Tanta gente e sabemos de cor, contamos no limite dos dedos os indivíduos que nos importam. População gigante e vezenquando basta falar com apenas um ser para sentir o dia vibrante. Não é preciso muito para ser feliz. O que não nos completa é apenas plano de fundo, o resto é figurante. 

Lembro que tem gente que chega ao ponto de matar por dinheiro. Polícos, não satisfeitos com o considerável salário, metem a mão no dinheiro destinado aos nossos direitos. Talvez seja inocência de minha parte indagar isso, consequência da minha pouca idade e experiência de vida, mas como seria se as pessoas soubessem o que é realmente essencial pra vida e felicidade delas? Continuariam se individando, comprando mais que o necessário? Nos casos extremos, continuaria havendo brigas familiares e morte por ganância? Será que existiria a tamanha injustiça e desigualdade que nos rodeia, com muitas crianças não tendo a oportunidade de estudar, por terem sido geradas acidentalmente, porque os pais não tiveram orientação, culpa do precário contato com a educação, que é algo que o governo pouco investe na estrutura e qualidade? Ressalto que isso é apenas UM dos muitos casos de ciclos que colaboram para a criminalidade. Pode ser que se aprendêssemos a tirar leite da pedra, mataríamos a fome de ver um mundo mais justo, e individualmente, mais feliz.

Gabriela Martelo