sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Me levar para passear

  Hoje ia sair para levar minha cachorra, que ainda é filhote, pela primeira vez para passear. Após a ordem de ter que esperar alguns dias desde a vacina, a bicha finalmente poderia explorar a vida na rua. Chegando no asfalto, esperei que a "peste" se animasse e começasse a andar. Nada. Ficou ali parada, e depois quis voltar para casa de qualquer jeito. Me surpreendi, pois como era inquieta, achei que iria gostar de um passeio. Fiquei mais surpresa ainda com o fato de a minha pessoa ficar mais para baixo por não ter dado aquela simples volta.

 Então, sozinha, fui andar por aí. Algo que nunca me imaginei fazendo, isso de sair do conforto do meu quarto para vagar por aí, sem rumo. E me veio ao consciente que quando eu me ofereci para levar a Wendy para passear, não foi por querer fazer algum tipo de tarefa ou para libertá-la um pouco de casa, e sim porque eu necessitava andar um pouco, deixar a mente livre para vagar como os meus pés. Ter um tempo na companhia do meu próprio ser, ver o que tá errado e o que tá certo. Meu subconsciente queria isso, e meus pensamentos usaram o tal passeio com a cachorra para executar tal pedido.

  Porque, de fato, todas as coisas inocentes e aparentemente "bobas", se for considerar o padrão de pensamento para se encaixar numa sociedade que se julga normal, são repreendidas e enterradas no fundo da mente. E quando um ser, como eu, que não está ciente de que está tão alienado assim, tem vontade de praticar uma dessas naturalidades (no meu caso, dar uma volta sem rumo), inventa qualquer desculpa, inconscientemente, para realizar, agradando a si próprio e não se passando por ovelha negra.

Chegamos num ponto que o que demonstrar que menos se importa num relacionamento, sai "ganhando". O amor, algo tão puro e primitivo, se torna um jogo para ver quem sai melhor no desapego. A sexualidade, que era para ser dotada de naturalidade, se torna um pudor e motivo para muitas piadas. Além de nos impedirmos de praticar coisas tão adeptas da alma humana, criando desculpas, também tiramos o seu verdadeiro valor. Paramos de sentir intensamente pequenos prazeres, e passamos a idolatrar grandes objetos, logo se cansando e querendo o que estiver mais na moda. Não culpo o capitalismo, sistema que considero o menos pior de todos, embora ache que seja exagerado em muitas propagandas e dizeres. Culpo o pensamento humano, que toda hora quer se adequar ao útil e agradável. Talvez isso seja natural, mas só digo "talvez" mesmo porque não sei nada do continente Certeza, mas sei que uma volta ao ar livre de fato melhora o nosso coração e traz uma tremenda inspiração.

Gabriela Martelo

Nenhum comentário:

Postar um comentário