sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O café

  A cada gole o café esfria, ficando menos prazeroso de se tomar. O jeito exacerbado dela de amar foi uma espécie de milagre, visto que não há muitas condições para uma flor no deserto. Seguia os rastros e não se importava em cair do penhasco. Gostava de deixar o destino na mão do acaso e ter no peito sempre um pingo de esperança, que mantinha toda a chama dos seus sentimentos acesa. Como os olhos, a pele e os membros, essa loucura platónica foi envelhecendo, tendo uma dose de razão. Foi um melancólico término com a paixão, embora não recíproca no real. O corpo grita pelos efeitos que tirava a solidão e pulsava nas veias de maneira intensa, mesmo que lhe arrancasse lágrimas ao se abrir para a verdade. Por trás dos olhos que tanto brilharam, em vão a inocência de menina tenta se recuperar, cada vez mais pequena, infelizmente vencida pela mesmice que deu a maturidade. Com a vida realizada apenas na memória, se entrega ao tempo após o diário café, e este, que esfriava, milagrosamente ainda apresenta vapor.

    Gabriela Martelo

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