quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Hábito

  Entre tantos sufocados soluços, sentimentos repreendidos, madrugadas monótonas na companhia dos maços de cigarro e no momentâneo prazer ao sentir a bebida goela abaixo, o conceito de escuridão virou algo comum ao seu ser. Aquilo que antes lhe arrancava pedaços do corpo, originava lágrimas abafadas no travesseiro e deixava as mãos desesperadas por quebrar indefesos objetos, agora interage com uma agoniante indiferença. Quando o interior se iguala ao exterior, não há sentido em haver crises, uma vez que nada saiu do lugar. Se habituou à ideia do cheiro que tanto lhe agradava estar apenas em suas roupas e a maciez dos cabelos na lembrança das mãos que tanto afagava-os. Virou rotina os romances felizes se realizarem somente nos livros empoeirados e os sorrisos persistirem nos rostos que o ignoravam. Acomodado com a solidão do bar e com a exaustão no ar, se enganou ao pensar que esqueceu aquilo que lhe tirava o sono. Não fazia ideia que o fato de não sentir mais a dor do espinho de uma rosa não significa que deixará de sangrar quando se espetar. Atordoado, custava a admitir que as lágrimas não secaram pela luta de se esquecer um bem, e sim pelo fato de ver a atmosfera que o rodeava sem se esgoelar com tamanho baixo astral. 

Gabriela Martelo

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