quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Estranho

  Estranheza percorreu pela sua alma, não reconhecendo-a. Estranho aquilo de acordar e não lhe vir a tão familiar face em sua mente, com o desejo de tornar aquela falsa reprodução em original. Realmente estranho percorrer os habituais caminhos de seus diários afazeres e não procurar aquele mesmo coração entre os milhares que passavam, inda sabendo que este já desviara do seu andar. Também estranho o fato de se concentrar naquele trabalho que lhe era tão mal humorado e cansativo, sem idealizar na sua carente e necessitada imaginação os apaixonados e desesperados beijos que trocariam, as mãos perfeitamente encaixadas e os olhares vidrados no mesmo ponto. Mais estranho ainda era chegar em casa após outro repetitivo dia e então preparar-se para adormecer sem procurar nas escondidas fantasias um meio de se sentir mulher. Anormal, desusado, bizarro viver sem um momento do passado para se refugiar, abrindo suas portas para estranhos amores, estranhos prazeres, estranhos rostos, estranhos ares.

   Gabriela Martelo

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